Infância, continuação do "Post Anterior"
Sem dúvida alguma os melhores momentos de primária para mim eram os momentos de corrida, sem dúvida influências das medalhas do Carlos Lopes, do Mamede, da Rosa Mota, principalmente a especialidade "atletismo nas lojas".
Como qualquer centro de vila que se preze, a minha vila, possuía várias lojas do chamado comércio tradicional, e tal como no resto do país poucas restam desse tempo!
O "atletismo nas lojas" como qualquer prova tinha um período de aquecimento, esse período envolvia a concentração para tão importante momento, a contagem religiosa dos últimos 5 minutos de aula antes do abençoado toque, que significava liberdade. Quando o toque soava a confusão assemelhava-se a uma partida de fórmula 1, todos a tentar arrumar tudo rápido, todos a tentar sair rápido, todos a tentar descer as escadas rápido de forma a evitar os outros alunos do rés-do-chão com o objectivo de ser o primeiro, da turma, da escola, a chegar a tão almejada meta, o portão da dita escola.
Depois de alcançada a liberdade era o momento para o "Atletismo nas lojas", foi a forma que eu e o F. encontramos para desejar um resto de bom dia aos comerciantes da terra, embora eles não ficassem particularmente satisfeitos por tal preocupação. As lojas de lá tinham todas duas portas, dava perfeitamente para entrar por um lado e sair pelo outro com o respectivo dono a correr também atrás de nós e a dizer "malandros, amanhã eu..." frases que eram vistas por nós como um incentivo para o dia seguinte, sempre num ritmo convincente até à aproximação da minha loja preferida. Defronte dela o enorme carro preto estacionado, modelo americano, a loja velha, antiga, soalho de tábuas, algumas delas podres, que abanava ao mínimo passo, cheia de panelas todas presas por fios de aço e cadeados. Atrás do imponente balcão um velhote de cabelos brancos que contemplava quem entrava com um olhar inquisidor sempre ansioso pela nossa chegada. Era o único que não se esquecia da nossa visita diária, era o único que atirava borrachas, era o único que corria atrás de nós com uma vassoura acompanhado do incentivo "malandros, amanhã eu..."!
Rapidamente chegávamos a outra loja, a única na qual não entravamos. Sempre me ensinaram "respeita sítios em que se come e se bebe" e verdade seja dita, a loja (na realidade era um tasco) era famosa pelo vinho, pelo bacalhau e os bêbados da vila passavam lá os dias orgulhosamente.
P.S. Perguntas e factos
Hoje pergunto-me seria só ali que se agia assim?
Infelizmente o "Tasco" hoje não existe.
1 Comentários:
Não amigo,não era só ali. Com tanto post a recordar esses verdes anos começo a sentir-me nostálgica.
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