Maria Manuela
Era uma senhora de meia idade, habituada às andanças da vida! Tinha pouco mas era feliz, sentava todos os dias no banco do passeio, ao pé do largo do repuxo. Era de seu conhecimento, há muito tempo, que as lojas fechavam entre as 13h e as 15h, mas por volta das 14h lá estava ela, lá ao fundo, longe da loja, mas à espreita, aguardando solenemente que a loja abrisse.
A brisa dos montes, àquela hora, mesmo com o sol esperto, era fresca, mas não impedia, d. Manuela de falar e aconselhar todas as outras Marias, que por ali passavam e deixavam seus problemas.
Uma vez, passei eu. Sentei-me em frente a uma loja, eram para aí 14h30 (para não destoar)e fiquei à espera que abrisse. Maria Manuela tentou puxar a ferros algum assunto, falou dos bancos na praça, a boa ideia que tinham sido, que estava frio, "mas a gente nova aguenta bem" e que àquela hora precisava de batatas para fazer o almocinho, embora já fosse tarde, mas tinha ficado a trabalhar muitas horas de manhã, um trabalho de um dia inteiro e já o tinha despachado! Acenei com a cabeça e percebi que com Maria Manuela a gente não fala, ouve, porque ela tem noções da vida e sabe que os bons filhos levam as mães a almoçar, ajudam a pagar a renda, de uma casa que um dia há-de ser deles. E eles, os filhos, não servem para cuidar das mães e as noras, coitadas, "não podem deixar os empregos para cuidar de uma velhota"! "Vale mais ir guardando o dinheiro pr'ó lar, que lá vou ter comidinha e vou estar lavadinha!"
Experiências de posto médico e banquinhos de rua
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